Egas Moniz no Hospital de Santa Marta
Egas Moniz com borla e capelo

Um pouco de história

EGAS MONIZ (António Caetano de Abreu Freire), nasceu em Avanca em 29 de novembro de 1874 e faleceu em Lisboa a 13 de dezembro de 1955. Frequentou a instrução Primária em Pardilhó, cursou os estudos liceais no Colégio de S. Fiel dos Jesuítas e os últimos anos no liceu de Viseu.

Após os preparatórios de Medicina em Coimbra desde 1891, matriculou-se em 1894 na respetiva Faculdade. Terminado o curso em 1899, doutorou-se em Medicina em 14 de julho de 1902 e a partir de 1903 foi Professor Catedrático na mesma Faculdade (Anatomia, Fisiologia e mais tarde Patologia Geral). Ainda em Coimbra cultivou a Neurologia, estimulado pelo seu notável Mestre Augusto Rocha, um dos raros empreendedores da pesquisa laboratorial na Faculdade de Coimbra. Foi em França, que procurou fazer a sua formação neurológica. Trabalhou primeiro em Bordéus com Pitres e Abadie e mais tarde, em Psiquiatria com Régis. Em Paris, aprendeu com os grandes Neurologistas do tempo, Raymond, Pierre Marie, Degérine e Babinski. Em 1911, foi transferido para Lisboa para ocupar a cadeira de Neurologia então criada pela República, cujo ensino era pela primeira vez instituído. Como Professor pelas suas qualidades reforçadas com a aprendizagem com os Mestres Franceses, Egas Moniz sempre soube aliar a faculdade e as elegâncias verbais com o seu espírito crítico e realista.

Nesta faculdade, que dirigiu durante algum tempo, dedicou-se também a trabalhos de pesquisa da Angiografia Cerebral e da Leucotomia Pré-Frontal, cuja descoberta o tornou mundialmente conhecido. Isso proporcionou-lhe a entrada na Academia de Ciências de Lisboa e fê-lo sócio de diversas Academias Estrangeiras, nomeadamente de Paris, Madrid, Rio de Janeiro, Estrasburgo, Buenos Aires, Nova York e Lyon. Como Professor, Egas Moniz foi uma personalidade forte em todos os campos onde atuou, as qualidades de clareza e decisão, desassombro e arrogância que revelou nos seus trabalhos científicos. Marcaram também a sua atuação na vida política, durante o primeiro quartel do século XX, ou seja, durante os últimos anos da Monarquia e vigência da primeira República. Foi por isso Deputado de várias Legislaturas entre 1903 e 1917, Ministro de Portugal em Madrid em 1917, Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1917-1918 e foi igualmente o primeiro Presidente da Delegação Portuguesa à Conferência da Paz em 1918, onde conseguiu reatar as relações entre a Santa Sé e Portugal, que haviam sido interrompidas em consequência da Lei da Separação.

Democrata íntegro, sempre ergueu voz contra as prepotências abominando frontalmente todas as formas de Ditaduras, o que em certas fases da sua vida lhe acarretou graves e deploráveis desconsiderações. No entanto após instaurado o Fascismo em 1926, afastou-se decisivamente da política e recolheu-se ao seu labor de Cientista. Para uma melhor avaliação da sua capacidade criadora e do labor científico em que foi ímpar, há que evocar o ambiente intelectual do seu meio e da sua época, bem como o estado da Medicina de então. No país manifestava-se um pungente atraso da ciência e tecnologia, grassava o marasmo científico, sendo excecionais entre nós os que produziam um trabalho original. Rareavam os mais elementares meios de trabalho e não existia qualquer planificação e investigação. No entanto, o insigne Mestre porque era um inconformista em relação aos conceitos vigentes, não cruzou os braços sobre o imobilismo e em junho de 1927 a Angiografia Cerebral era uma realidade. Este novo método foi concebido com o fim de fornecer aos Neurologistas um auxiliar de investigação clínica principalmente no estudo das neoplasias. Acerca dela diz-nos Egas Moniz: "Quando em junho de 1927, consegui ver pela primeira vez ao raio x as artérias do cérebro, através dos ossos espessos do crânio, tive um dos maiores deslumbramentos da minha vida". Depois dos êxitos diagnósticos da Angiografia e dos progressos consequentes da Neurologia, outro território mais vasto e difícil se desenhou no espírito de Egas Moniz, que curioso pelo desconhecido e ávido por desbravar novos domínios iniciou os seus estudos das "doenças mentais". Em 1935 era a descoberta da Leucotomia Pré-Frontal, que consistia em cortar a substância branca dos hemisférios cerebrais, para fazer o tratamento de certas doenças mentais (como esquizofrenia, psicoses, etc). Para a realização desta operação ele próprio criou o "Leucótomo". Os seus estudos prosseguem e a consagração não se fez esperar com a atribuição do Prémio de Oslo em 3 de setembro de 1945 e do Prémio Nobel em 27 de outubro de 1949.

Em manifestações colaterais dos seus métodos multiformes revelou-se notável Orador e Conferencista, Escritor de estilo aliciante e simples, onde entre tantas obras "Confidências de um Investigador Científico" e a "Nossa Casa", nos convidam a refletida meditação. Etnógrafo informado, Biógrafo, Industrial e Colecionador de Arte, sendo testemunho dos seus merecimentos neste domínio, a Casa Museu de que é patrono e que quis legar a todos os Portugueses. Em suma, a sua vida mais do que uma caminhada de triunfo em triunfo, projetou-se autenticamente numa linha de ascensão. Devemos inscrevê-lo na legião dos Sábios, dos Pioneiros, daqueles que passo a passo, conseguiram de alguma forma modificar o rumo da História.